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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Leituras do que se foi

Estou perdido no livro, girando num anagrama, não entendo a língua, desconheço a trama, já é tarde e eu sequer tenho grana, estou nas margens de um fato, um bobo em cena de drama, ser da fome a caça, na floresta humana, já é tarde, eu preferia uma cama, quem me estenderá a mão no escuro? quem me apontará a saída? já é tarde, que não me levem em cana, alguém sussurra o meu nome, alguém na página plana sua frase é seca, seu estilo inflama, já é tarde, a noite a nós se derrama, com ela eu sigo adiante, pisando folhas e lama sua rima é pressa, quando passa é gana, já é tarde, adeus, retórica insana. Atravessamos o livro, velozes num telegrama, o final espera, de onde a luz emana, já é tarde, a história já não me esgana, talvez no fim haja o verbo de um Deus num trono em chamas e se o verbo mata, e se o verbo engana, já é tarde, o céu, o inferno me chama.